sábado, 30 de abril de 2011

DEUS NÃO NOS LIVRE DE UM BRASIL EVANGÉLICO


Por Robinson Cavalcanti

Uma primeira constatação é que estamos ainda distantes de ser um “país evangélico”: quarenta milhões da população é formada por miseráveis; uma insegurança pública generalizada; uma educação pública de faz-de-conta; uma saúde pública caindo aos pedaços, assim como as nossas estradas, a corrupção endêmica no aparelho do Estado, o consumo da droga ascendente, prostituição, discriminação contra os negros e os indígenas, infanticídio no ventre, paradas de orgulho do pecado, uma das maiores desigualdades sociais do mundo. Uma grande distância do exemplo de vida e dos ensinamentos de Jesus de Nazaré, cujas narrativas e palavras somente conhecemos por um livro chamado de Bíblia, que o mesmo citava com frequência, e que foi organizado por uma entidade fundada pelo próprio: uma tal de Igreja. Uma grande distância da ética e da “vida abundante” apregoada pelas Boas Novas, o Evangelho.

Percebemos sinais do sagrado cristão em nossa História e em nossa Cultura, mas, no geral, ficando na superfície. Se os símbolos importassem tanto, o Rio de Janeiro, com aquela imensa estátua do Cristo Redentor, deveria ser uma antecâmara do Paraíso.

Como cidadão responsável, e como cristão, como eu gostaria que o meu País fosse marcado pela justiça, pela segurança, pela paz, fruto do impacto das Boas Novas, do Evangelho. Sinceramente, gostaria muito que tivéssemos um Brasil mais evangélico.

Fico feliz que Deus não tenha nos livrado da imigração dos protestantes alemães, suíços, japoneses, coreanos, e tantos outros. Fico feliz pelo seu trabalho e por sua fé.

Fico feliz por Deus não nos ter livrado do escocês Robert R. Kalley, médico, filantropo e pastor escocês, fugindo do cacete na Ilha da Madeira (Portugal), pioneiro da pregação do Evangelho entre nós, nos deixando as igrejas congregacionais. Ele nem era norte-americano, nem fundamentalista, pois esse movimento somente surgiria meio século depois. Eram norte-americanos, e também não-fundamentalistas os pioneiros das igrejas presbiteriana, batista, metodista e episcopal anglicana que vieram ao Brasil na segunda metade do século XIX.

Fico feliz por Deus não nos ter livrado desses teimosos colportores que varavam os nossos sertões sendo apedrejados, vendendo aquelas Bíblias “falsas”, cuja leitura, ao longo do tempo, foi tirando gente da cachaça e dos prostíbulos, reduzindo os seus riscos de câncer de pulmão, cuidando melhor de sua família, como trabalhadores e cidadãos exemplares.

Fico feliz por Deus não ter nos livrado desses colégios mistos, desses colégios técnicos (agrícolas, comerciais e industriais), trazidos por esses missionários estrangeiros, em cujo espaço confessei a Jesus Cristo como meu único Senhor e Salvador. E, é claro, tem muita gente agradecendo a Deus por não nos ter livrado do voleibol e do basquetebol introduzido pioneiramente nesses colégios… nem pelo fato do apoio à Abolição da Escravatura, à República ou ao Estado Laico.

Por essas e outras razões, é que vou comemorar (com uma avaliação crítica) com gratidão, dentro de seis anos, os 500 anos da Reforma Protestante do Século XVI, corrente da Cristandade da qual sou militante de carteirinha desde os meus dezenove anos.

Essa gratidão ao Deus que não nos livrou dos protestantes de imigração e dos protestantes de missão, inclui, sinceramente, os protestantes pentecostais, herdeiros daquela igreja original, dirigida por um negro caolho (afro-descendente portador de deficiência visual parcial, na linguagem do puritanismo de esquerda, conhecido por “politicamente correto”)…, mas que abalaria os alicerces religiosos do mundo. Eu mesmo sou um velho mestiço brasileiro e nordestino, e não me vejo como um ítalo-luso-afro-ameríndio de terceira idade…

Olhando para o termo “evangélico”, usado sistematicamente na Inglaterra, a partir de meados do século XIX, como uma confluência da Reforma e de alguns dos seus desdobramentos, como o Confessionalismo, o Puritanismo, o Pietismo, o Avivalismo e o Movimento Missionário, com paixão missionária pelo Evangelho que transforma, dou graças a Deus que Ele não nos tenha livrado da presença dos seus seguidores e propagadores. Até porque, por muito tempo, não tivemos presença fundamentalista (no sentido posterior) e nem do liberalismo, pois esses últimos são bons de congressos e revoluções de bar, mas não muito chegados a andar de mulas por sertões nunca antes trafegados…

Minha avó é quem dizia que “toda família grande vira mundiça”, se referindo ao fato de que quando qualquer instituição, grupo ou movimento social cresce, é inevitável que ao lado do crescimento do trigo haja um aumento significativo do joio. Nesse sentido, o protestantismo e o evangelicalismo brasileiro são normais (com desvios e esquisitices), mas, garanto que temos muitíssimo mais trigo (às vezes armazenados nos celeiros, quando deveriam estar sendo usados nas padarias). No meu tempo só tinha crente militante e desviado; depois apareceram os descendentes, os nominais, os de IBGE, os bissextos e os ocasionais.

No sentido histórico dou graças a Deus pelo localizado movimento fundamentalista nos Estados Unidos, em reação ao racionalismo liberal, pois também afirmo a autoridade das Sagradas Escrituras, o nascimento virginal, a cruz expiatória, o túmulo vazio e a volta do Senhor. Depois o termo foi distorcido por um movimento sectário, antiintelectual, racista, e hoje é aplicado até ao Talibã, em injustiça à proposta original

Quanto ao Tio Sam, nem todo republicano é evangélico, nem todo evangélico é republicano, embora, de época para época, haja deslocamentos religiosos-políticos naquele país. Eu mesmo não tenho muita simpatia (inclusive aqui) pelo Partido do Chá (Tea Party), pois tenho longa militância no Partido do Café e no Partido do Caldo de Cana com Pão Doce.

A Queda do Muro de Berlim assinalou o ocaso da modernidade e o início de uma ainda confusa pós-modernidade, com a mundialização da cultura anglo-saxã, no que tem de bom e no que tem de mau, mas, como nos ensina Phillip Jenkins, a Cristandade está se deslocando do hemisfério Norte para o hemisfério Sul, e, inevitavelmente, revelamos nossas imaturidades, que devem e podem ser superadas.

Agora, todo teólogo, historiador ou sociólogo da religião sérios, perceberá a inadequação do termo “protestante” ou “evangélico” (por absoluta falta de identificação caracterizadora) com o impropriamente chamado “neo-pentecostalismo”, na verdade seitas para-protestantes pseudo-pentecostais (universais, internacionais, mundiais, galáxicas ou cósmicas), e que é algo perverso e desonesto interpretar e generalizar o protestantismo, e, mais ainda, o evangelicalismo brasileiro, a partir das mesmas.

O avanço do Islã e a repressão aos cristãos onde eles dominam é um “óbvio ululante”, a defesa da vida em relação ao aborto, à eutanásia, aos casais que não querem ter filhos, ao homossexualismo, o atentado ao meio ambiente (“cultura da morte”) é coerente com o princípio da Missão Integral da Igreja na “defesa da vida e da integridade da criação”.

A identidade evangélica se faz por um rico conteúdo e não por antagonismo ou relação reativa a conjunturas.

Sabemos que o mundo jaz do maligno, que o evangelho será pregado a todo ele, mas não que todos venham a se converter, e que descendentes de cristãos nem sempre continuam nessa fé. Assim, o Brasil nunca será um País totalmente cristão, protestante ou evangélico, mas creio que será bem melhor com uma Igreja madura que, sem fugas alienantes, adesismos antiéticos ou tentações teocráticas, possa “salgar” e “iluminar” com os valores do Reino.

Para isso necessitamos (na lícita diversidade protestante quanto a aspectos secundários e periféricos) de líderes sólidos e firmes, vestindo a camisa do nosso time com entusiasmo e garra para o jogo, sem se perderem em elucubrações estéreis, de quem já perdeu a fé na Palavra, não acredita mais na Queda, nem na Redenção, nem na singularidade de Cristo, deixando uma geração órfã de heróis.

Assim, espero que Deus não nos livre dessa presença cultural transformadora; que Deus não nos livre de ser, cada vez mais, um País evangélico.

A Ele, Onipotente, Onisciente e Onipresente, Senhor do Universo e da História, com os anjos e arcanjos, coma Igreja Triunfante e a Igreja Militante, intercedendo por todos que atravessam crises espirituais, seja toda a honra e toda a glória!

Paripueira (AL), 27 de abril de 2011,


Anno Domini.


+Dom Robinson Cavalcanti, ose
Bispo Diocesano

* Dom Robinson Cavalcanti é bispo diocesano da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil. Chefia a Diocese do Recife, responsável pelas Igrejas Anglicanas espalhadas por Pernambuco, Paraíba, Ceará, Bahia e Rio Grande do Norte. Homem de notório saber, formado em Direito e logicamente em Teologia, Dom Robinson é pessoa simples, bem humorado e de prosa cativante.

FRASES

"O Meu mandamento é este: amem uns aos outros como Eu amo vocês."
 Jesus Cristo, O Mestre e Senhor

"Prefiro os que me criticam, porque me corrigem, aos que me adulam, porque me corrompem."
Santo Agostinho

"Deus promete guiar-nos não para livrar-nos da responsabilidade de pensar"
John Stott

“Não devemos permitir que alguém saia da nossa presença sem sentir-se melhor ou mais feliz.”
Madre Tereza de Calcutá

"Amor é mais serviço do que sentimento"
John Stott

"Perdoar é claramente a marca de uma humanidade tocada por Deus – livre da ansiedade sobre a identidade e segurança, livre para alcançar aquilo que é o outro, assim como Deus faz em Jesus Cristo."
Rev. Rowan Williams, Arcebispo de Cantuária

"...uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus."
Apóstolo Paulo em Filipenses 3:13-14

Ele é que nos encontra. Ele nos procura e nos encontra no nosso lugar, nos surpreende com Seu olhar, com Sua mão estendida, com Sua amorosa graça a nos erguer e aceitar.
Rev. Carlos Alberto Chaves Fernandes

"Se eu encontro em mim um desejo que nenhuma experiência neste mundo pode satisfazer, a explicação mais provável é que eu fui feito para outro mundo."
C. S. Lewis

"Fica para sempre discernido como verdade que nada é belo sem amor, e que o olhar de quem não ama jamais enxergará qualquer beleza em nenhum lugar, nem mesmo no Paraíso ou no fundo do Mar."
Caio Fabio

"Toda religião que transforma seres humanos em alienados, subservientes e sobre eles colocam jugos insuportáveis, certamente, não é Evangelho, pois, o Evangelho é a verdade que liberta e nos livra pra andarmos segundo nossa propria consciencia em Cristo."
Carlos Bregantim

"Sou humano demais pra compreender
Humano demais pra entender
Este jeito que escolheste de amar, quem não merece."
Padre Fabio de Melo

"Permite-se para sempre que onde quer que dois ou três invoquem o Nome em harmonia, nesse lugar nasça uma Catedral, mesmo que esteja coberta pelas folhas de um bananal."
Caio Fabio

"A Ele só interessa uma coisa da nossa parte: o nosso amor. Foi para isto que nos criou."
Philip Yancey

"O Filho de Deus tornou-se homem para possibilitar que os homens se tornem filhos de Deus."
 C. S. Lewis

"O que nos torna humanos não é a mente mas o coração, não é a habilidade de pensar, mas a capacidade de amar."
Henri Nouwen

"O oposto do pecado é graça, e não virtude."
Philip Yancey

"Cristo contradisse a religião. Segui-lo não é fuga, mas coragem; é abrir mão de delírios otimistas para enfrentar a realidade com realismo."
Ricardo Gondim

sexta-feira, 29 de abril de 2011

QUE BOM...QUE PENA...

Que bom quando criança, em que podia ir à igreja com meus pais, pois era momento de alegria em ouvir lindos cânticos e a Palavra;
Que pena, ir à igreja hoje muitas vezes me deixa triste.


Que bom era poder ir à Escola Dominical ou à Escola Bíblica de Férias;
Que pena, hoje elas não existem mais, se transformaram em escolas de líderes.


Que bom quando voltávamos da igreja,esperando a volta de Cristo para aquela noite, pela palavra que tinhamos ouvido;
Que pena, hoje, quando se volta da igreja, a esperança que se tem é naquela promoção, naquele dinheiro preso na justiça, naquela vingança que o senhor vai tomar por mim.


Que bom era poder ouvir os cânticos que falavam de graça, de salvação, da nova vida em Cristo. Hinos da Harpa Cristã, do Cantor Cristão e do Salmos Hinos;
Que pena, hoje, os cânticos se tornaram tão chatos, tão sem sabor, tão sem inspiração, e os hinários foram quase de todos esquecido.


Que bom era poder ouvir sons de tantos instrumentos e saber que todos são para louvar o nome de Jesus;
Que pena, hoje o tal do shofar, virou o instrumento místico, capaz de "trazer" a presença de Deus.



Que bom quando a palavra era pregada e os pecadores se arrependiam de seus pecados;
Que pena, hoje só dá pra se arrepender de ouvir alguns pregadores.


Que bom era poder ouvir excelentes pregadores, homens comprometidos com a verdade. Havia outros que não tinham excelência na arte da pregação, mas na sua simplicidade pregavam o Reino de Deus.
Que pena, hoje ao ouvir alguns pregadores, você fica na dúvida se está mesmo em uma igreja cristã.


Que bom quando os cristãos evangélicos eram conhecidos apenas como tradicionais ou pentecostais;
Que pena que hoje são conhecidos por estarem na visão, por serem 12 ou 144 de algum líder desses.


Que bom quando os líderes eram reconhecidos como pastores e eram respeitados pelas ovelhas que Deus os confiou;
Que pena que hoje querem ser bispos, apóstolos, paipóstolos e patriarcas, gostam de ser adorados e muitas vezes amedrontar aqueles que chamam de seus discípulos.


Que bom quando os cristãos eram conhecidos como discípulos de Cristo;
Que pena que hoje enchem o peito pra dizer que são discípulos desse ou daquele pastor, bispo ou apóstolo.


Que bom ter conhecido homens como Pastor Otavio Gomes de Almeida, Pastor Agostinho Valério de Souza, Pastor Myron Pinto da Costa, apesar de anônimos, eram grandes homens de Deus.
Que pena em conhecer hoje muitos homens que se dizem pastores, que estão na mídia, em evidência, mas com suas vidas demonstram o contrário. Não passam de mercenários como o próprio Jesus disse em João 10.


Que bom...Que pena...